«Se as portas da percepção se vissem limpas,
tudo apareceria ao homem tal como é, infinito.
Pois o homem encerrou-se até ver todas as coisas pelasfendas
estreitas da sua caverna»

William Blake (1757-1827), O Casamento do Céu e do Inferno [1790],
Lisboa: Antígona, 2006, p. 29.

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As Portas da Percepção
Co-produção MARIONET – TAGV
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Sinopse:

Tal como nos poemas iluminados, texto e imagem colaboram na produção de um sentido, a selecção do Manuel Portela produziu para nós um mundo dentro da cosmogonia visionária de William Blake. Aqui estão ideias de liberdade para os corpos e para as emoções na forma de um novo Génesis. Um mundo sem escala ou tempo absolutos, em que o nascimento de um homem é também a explosão original geradora do mundo finito. Mente e corpo são um só, encerrado nos cinco sentidos finitos. Antes era o infinito e só a vontade determinava a forma. Depois de cairmos da Eternidade ficámos condenados aos limites do mundo material que podemos percepcionar. Instituições seculares como Igreja, Estado e parte da comunidade científica procuram organizar esta percepção para legitimar as suas leis com medições e cálculos.
Limpar as portas da percepção permitirá contemplar esta conspiração mas também encontrar o indivíduo incapaz de obedecer. O Homem ilimitado, que suportará a complexidade sem se esconder aquém do horizonte.

Imagens de espectáculo



fotografias da Francisca Moreira

Imagens de um Ensaio



fotografias da Francisca Moreira

Imagens de outro Ensaio



fotografias da Francisca Moreira

Contexto do Projecto:

As características muito próprias do projecto “As Portas da Percepção” fazem-no atravessar vários dos vectores de actividade da MARIONET. O que muito nos agrada. Da mesma forma que no conhecimento não há compartimentos estanques, como se verifica actualmente, por exemplo, no esbater das fronteiras entre áreas científicas ou na utilização cada vez mais frequente, também nas artes, dos termos interdisciplinar, multidisciplinar ou transdisciplinar, também na estruturação da nossa actividade há uma permeabilidade natural nas regiões fronteira, onde os conteúdos, as formas e os métodos se tocam. Por isso “As Portas da Percepção” enquadra-se, de forma arrojada, na região fronteira da nossa actividade onde procuramos abrir caminhos para o futuro.

Na génese desta co-produção entre a MARIONET e o Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) está uma das nossas criações de 2006: LED – viagem ao interior num computador. Como o nome indicia, naquela produção enfrentámos o desafio de fazer em palco uma viagem pelo interior de um computador, acompanhando nessa odisseia um electrão. Esse desafio foi inspiração para uma criação transdisciplinar em que o ambiente criado no palco, resultado da união criteriosa de construções sonoras catalizadoras de imagens sintetizadas por computador, da iluminação, da personificação de componentes electrónicos, e da criação de um texto original, resultou num trabalho inovador e surpreendente.

Esta criação potenciou o encontro de interesses artísticos entre a MARIONET e o TAGV, que tem agora por resultado este projecto – As Portas da Percepção – a partir dos livros iluminados de William Blake.

A ideia para este projecto sobre textos de Blake partiu do director do TAGV, Manuel Portela, professor do Grupo de Estudos Anglo-Americanos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tradutor de várias obras daquele autor, e em particular, no que interessa a este projecto, dos seus livros iluminados, cuja singularidade no tocante ao conteúdo poético e à multiplicidade de processos de construção os tornam frutos sugestivos e apetecíveis para a construção de um espectáculo transdisciplinar.


Imagem retirada do Livro Iluminado Urizen (Copy A, Plate 07) de W. Blake
In www.blakearchive.com

William Blake [1757 - 1827]

No seu conjunto, a obra de Blake constitui uma verdadeira cosmogonia, que reescreve e recombina diferentes mitos da criação. Ao escrever, desenhar, gravar, imprimir, pintar e publicar, William Blake tomou nas suas mãos todo o potencial simbólico do livro como máquina de criação e chamou a si o controlo do modo de produção tipográfico, num momento em que se acentuava a divisão do trabalho e se anunciava já a industrialização da imprensa. Além dos poemas proféticos em manuscrito Tiriel (c. 1789), The French Revolution (1791) e The Four Zoas (c. 1795-1804), a sua obra inclui os seguintes livros iluminados: All Religions are One (c. 1788), There is No Natural Religion (c. 1788), Songs of Innocence (1789), The Book of Thel (1789), The Marriage of Heaven and Hell (1790), Visions of the Daughters of Albion (1793), For Children: The Gates of Paradise (1793), America a Prophecy (1793), Europe a Prophecy (1794), Songs of Innocence and of Experience (1794), The First Book of Urizen (1794), The Book of Los (1795), The Song of Los (1795), The Book of Ahania (1795), Milton A Poem(1811) e Jerusalem: The Emanation of the Giant Albion (1820). Aos livros iluminados juntam-se ainda centenas de pinturas, desenhos e gravuras. Nos últimos dez anos, a digitalização da sua obra tem construído um espaço de leitura que permite olhar de forma renovada para a materialidade icónica do seu traço visionário, restituindo a integridade visual e literária dos originais.
Manuel Portela


Referências essenciais:

www.blakearchive.org
www.tate.org.uk/learning/worksinfocus/blake/index.html

Blake, William. Sete Livros Iluminados [edição bilingue, inclui os livros: All Religions are One (c. 1788), There is No Natural Religion [a] and [b](c.1788), The Book of Thel (1789), America a Prophecy (1793), Europe a Prophecy (1794), The Song of Los (1795), The Book of Los (1795)], Lisboa: Antígona, 2005.

William, Blake. Quatro Visões Memoráveis [edição bilingue, inclui os livros: The Marriage of Heaven and Hell (1790), Visions of the Daughters of Albion (1793), The [First] Book of Urizen (1794), The Book of Ahania (1795)], Lisboa: Antígona, 2006.

Imagem retirada do Livro Iluminado Urizen (Copy A, Plate 11) de W. Blake
In www.blakearchive.com

Identificação da Equipa:

Discussão e Ideias Alexandre, Anabela Fernandes, Laetítia Morais, Manuel Portela, Mário Montenegro, Nuno Fareleira, Pedro Andrade, Rui Capitão, Rui Simão e Tanya Ruivo

Ideia, tradução e selecção de textos e imagens Manuel Portela
Direcção artística Mário Montenegro
Assistência de direcção e produção executiva Alexandre
Intérpretes Anabela Fernandes, Mário Montenegro, Nuno Fareleira e Tanya Ruivo

Espaço cenográfico, figurinos e d
esign Pedro Andrade
Sonoplastia Rui Capitão
Vídeo Laetítia Morais
Iluminação e Direcção Técnica Rui Simão
Programador de sensores Rui Monteiro
Registo fotográfico Francisca Moreira
Assistência de Produção Joana Figueiredo

Projecto financiado pela
DG Artes (Direcção Geral as Artes) / MC (Ministério da Cultura)

Apoios
British Council, MAFIA – federação cultural de Coimbra, F. Letras da U. C., Ilídio Design., Diário de Coimbra, RUC, República Rosa Luxemburgo